Skate, patins e afins

      “Skate não é moda. É estilo de vida”. Isso traduz bem o que sentem todos esses jovens apaixonados pelos esportes radicais que vieram à reinauguração da pista de skate do Parque do Povo, em Presidente Prudente, no último sábado, dia 19 de fevereiro.
       O Rota Notícia veio conferir de perto toda atmosfera de expectativa que cercava o Circuito Verão Coca- Cola, evento realizado pela Secretária Municipal de Cultura e  Turismo da cidade, cujo intuito era promover diversas atividades esportivas e culturais no parque do Povo entre os dias 18, 19 e 20 deste mês. A grande sensação do evento seria a presença do campeão dos X-Games de 2004, o patinador Caio Germano, inaugurando oficialmente a nova pista.
      Chegamos perto das três da tarde por alí e apenas alguns skatistas faziam suas manobras. Um pequeno público também acompanhava.



       Alex Campos, 20 anos, diz que curte muito o skatismo. Praticou o esporte durante uns 8 anos,
parou e hoje veio matar a saudade, vendo seus amigos voarem sobre as duas rodas nas rampas.

       E é isso mesmo. Eles correm, saltam, caem, se levantam, saltam de novo, sem nunca perder a compostura. Parecem ignorar aquela coisinha que Sir Isaac Newton descobriu: a gravidade. Não estão nem aí. Esses patinadores e skatistas querem mesmo é voar. E eles tentam bastante. Deslizam sobre corrimãos e rampas, girando seus corpos na tentativa daquelas manobras fisicamente não recomendadas. Aqui ninguém chega a fazer os famosos 540, 900, mas cada salto pra fora do chão merece um elogio.

        Um rapaz que não se arrisca em manobras é o Fernando, de 31 anos, natural de Pirapó. Anda de skate desde 99, por hobby. Foi influenciado por amigos e hoje gosta tanto do universo dos esportes radicais que diz ter mais de 100 revistas sobre o assunto.


       Então você me pergunta: e os tombos? Ah, sim, eles marcaram presença. E aos montes. Teve encontrão de bike com patins, skate com bike, cabeça com joelho, cotovelo com o chão, partes íntimas com o corrimão, entre outros acidentes irrelevantes para quem curte os radicais. Incrível como eles não usam capacete, ou qualquer outro objeto que evite um machucado mais grave.
Quem ficou sem anos sem saber o que era um machucado provocado pelo skate é o Daniel Martins, de 20 anos. O estudante de Medicina praticou a modalidade dos 8 aos 13 anos. Ele até trouxe seu briquedinho para relembrar os velhos tempos, mas diz que “ah, tem muita gente agora, não dá pra andar”. Segundo ele, a pista do Parque do Povo ficou muito boa, bem maior e com mais possibilidades de manobras.


  
       Há um consenso de que o skate tenha surgido no início da décade de 60, no estado maericano da Califórnia. A grande febre era o surf do lugar era o surf, mas quando o mar não estava pra ondas, alguns surfistas improvisaram e puseram rodas de patins em “shapes” de madeira. Desse modo eles podiam surfar no asfalto. Logo vieram as primeiras pistas e os primeiros campeonatos. Na década seguinte, um grande racionamento de água nos Estados Unidos fez com que muita gente esvaziasse suas piscinas. Os skatistas bateram os olhos nelas e viram alí um novo e divertido obstáculo. Era o começo do skate vertical. Na década de 80 aparecera, nomes consagrados da modalidade como Rodney Mullen e Steve Caballero.
    Neste esporte tipicamente americano, dois brasileiros se destacaram: Sandro Mineirinho, o rei do 540°, e Bob Burnquist. Ambos conquistaram os principais campeonatos mundiais.


     Alexandre Ribeiro, 25 anos é carioca. Atualmente mora em Dracena. Há quatro anos anda de patins. Ele conta que sempre gostou de coisas radicais, da adrenalina que as rampas proporcionam. Também explica que nos campeonatos de skate há sempre três baterias. A 1ª é para os mirins, os garotos menores. Na segunda entram os iniciantes A, que tem pra cima de 16 anos. A última é destinada aos amadores, que são os semi-profissionais. Conta muitos pontos as manobras encaixadas perfeitamente, com maior número de giros. Pergunto a ele se há muita diferena entre patins e skates. Alexandre responde que sim, porque os patins são muito mais difíceis e a probalidade de se machucar é maior. Isso por conta de que com o skate, na hora do tombo, você pode pular pra fora dele. Já como os patins estão amarrados aos pés qualquer tombo vira uma queda drástica e é mais fácil se machucar.

Alexandre me explicando as manobras
Na corda bamba...
       O desfile de manobras radicais atraiu a curiosidade de pessoas de todas as idades. Desde garotinhos com suas mini-bicletas até senhores e senhoras com mais de 50 anos. O seu Édison Rainha Teixeira, por exemplo, de 58 anos, veio com a esposa e a netinha acompanhar os jovens skatistas e patinadores neste sábado. Quando seu filho era pequeno sempre trazia-o para brincar na pista antiga. “É muito bom pra juventude. Exige equilíbrio, atenção, coragem. É bonito de se ver. Eles são bem persistentes”, afirma ele.

Sr. Édison e família

       Lá pelas cinco e pouco da tarde, ouvimos uma conversa sobre o cancelamento da reinauguração. Quem confirmou isso para nós foi Wellington Souza Neves. Ele faz parte do grupo Os Contrários, entidade sem fins lucrativos que visa melhoria de vida dos jovens nas comunidades. Ele está diretamente ligado com este evento. Confirmou que nem o patinador Caio Germano iria vir mais naquela tarde.
      A parte ruim dessa história é que não só nós (eu e minha colega de reportagem Letícia Quirino) ficamos esperando horas inteiras debaixo de um sol abrasivo, como também todas as outras pessoas que vieram até lá para ver de perto um profissional dos esportes radicais. Saímos decepcionados pela falta de organização do evento. Alguém poderia ter, no mínimo, avisado o cancelamento em público.
       Já a parte boa é que foi através de Wellington e, posteriormente, de André Beraldo que pudemos conhecer o belo trabalho de mobilização social realizado pelo grupo Os Contrários. "Nós queremos expandir o horizonte dos jovens, mostrar que eles também podem ir além do que pensam", explica ele. "Acho que as ações de inclusão social não devem ser articuladas do topo para a base e sim ao contrário, isto é as ações devem nascer nas comunidades, em cada bairro", complementa. O grupo existe há dez anos e faz aniversário no mês de março.
       Concluindo, nossa cobertura não saiu como planejamos, mas conhecemos pessoas muito interessantes. Esta aí a parte mais legal da "profissão repórter". E dentre essas pessoas muitas vão continuar tentando alcançar os céus em seus saltos. Porque, para elas, o chão não é o bastante.




                                  
                                                         Por Violeta Araki
                                      Colaboração de reportagem e fotos: Letícia Quirino

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